terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pegue o que quiser ou nada, leve o que quiser ou nada.

Foto: Ge Scalabrini
A Praça Saens Peña estava tranquila naquela manhã. Tudo parecia normal, exceto por alguns detalhes que enfeitavam uma parte da praça. Havia cartazes coloridos trazendo mensagens positivas, como "Distribua sorrisos", alguns deles pendurados, formando um varal. Um corredor era formado por cangas de praia, que serviam para expor de tudo: roupas, livros, revistas... Vi uma placa que dizia "Se precisar, pegue. Gratidão." 
Em uma das árvores, outro cartaz explicava: "Uma feira diferente, sem vendedor ou comprador, sem dinheiro! Uma feira que tudo é grátis. Uma feira que cada um doa o que pode/quer ou não doa nada. E pega o que quiser ou não pega nada." 
Ao meu lado, uma pessoa que tinha acabado de montar seu espaço distribuía pipoca doce para as pessoas, e muitas crianças se alegravam ao ganhar. Outra pessoa, sentada ao chão, anunciava em uma placa de papelão: massagem grátis. Quando saí, encontrei mais pessoas trazendo doações e posicionando cangas pelo chão. Era mais uma edição da Feira Grátis da Gratidão, que acontece em diversos pontos do Brasil.
A divulgação ocorre principalmente pela internet, e o calendário com as próximas Feiras pode ser visto no grupo do Facebook, que não serve apenas para divulgar os eventos, mas também funciona como uma grande feira virtual, onde os integrantes podem anunciar algo que tenham para doar ou até mesmo pedir algo que estejam precisando.
Para entender um pouco mais sobre como funcionam esses eventos, o Giro Carioca conversou com duas das administradoras desse grupo e organizadoras das Feiras, Carolina Machado e Lua Ferreira, mas que deixam claro: qualquer um pode organizar uma Feira Grátis, basta querer.

Giro Carioca: De onde surgiu a ideia de organizar a Feira aqui no Rio de Janeiro?
Carolina Machado:
A Feira já acontecia em outros países e chegou ao Rio através do Chico (Francisco Ottoni, que conheceu o movimento em Buenos Aires). A partir daí foi crescendo, crescendo e já acontece em vários estados do Brasil. A internet foi fundamental pra semear essa ideia por aí.

GC: De onde veio o nome "Feira Grátis da Gratidão"?
Lua Ferreira: A ideia da feira foi inspirada pela GratiFeria e acrescentamos a gratidão. O movimento da gratidão é uma decisão de celebração à vida, tudo que somos e que temos, e que nos mostra abundantes, tanto que podemos compartilhar o que nos sobra, e desmistifica a ideia da escassez. A Feira é uma festa.



Foto: Ge Scalabrini
GC: Com que frequência os eventos acontecem e como são escolhidos os lugares? É a própria organização que define onde serão as próximas ou o público?
CM: Qualquer pessoa pode organizar uma feira, basta vontade. Tudo o que precisa é divulgação. A pessoa escolhe um lugar, geralmente uma praça pública, e convida as pessoas. Cada um leva uma canga para expor o que não lhe é mais útil e seguimos o lema "Pegue o que quiser ou nada, leve o que quiser ou nada".
Os lugares são escolhidos pelo organizador, que pode ser qualquer um. Ou seja, basta vontade e escolher um lugar legal que dá certo!
LF: A frequência segue a disponibilidade do organizador. Antes era nômade, cigana. Era a Feira em tal lugar. Agora passou a ser expansiva e fixa: tal lugar e a Feira. Acontece em vários lugares do Rio de Janeiro, simultaneamente ou não. Esse mês, dia 8, tivemos uma edição junto da Feira Orgânica da Leopoldina.

GC: Como funciona a organização da Feira?
CM: A Feira não tem organizadores fixos. Como eu disse, qualquer um pode organizar e, a partir daí, é totalmente feita pelos frequentadores, que muitas vezes ainda nem conhecem a ideia, muita gente descobre enquanto tá rolando a feira, na rua mesmo.
LF: Nós criamos um evento pelo Facebook e convidamos as pessoas. Também postamos no grupo para divulgação. Qualquer um pode organizar, basta ter o que se quer doar ou levar. Orientamos e apoiamos todos que quiserem criar uma intervenção da feira no seu bairro.


Foto: Ge Scalabrini
GC: O que veio primeiro, o grupo no Facebook ou as feiras presenciais?
CM:
O grupo online veio depois da feira presencial. A ideia era utilizá-lo pra divulgar os eventos da Feira da Gratidão, mas acabou se tornando um espaço de doações que se expandiu também. Os próprios membros já criaram outros grupos, como a Biblioteca da Gratidão, o Empregos da Gratidão e a Feira da Gratidão Animal.

GC: Além da doação de bens materiais, a Feira traz a ideia de gratidão de outras formas, que podem ser vistas em trabalhos oferecidos e até mesmo na decoração. Como isso acontece?
CM:
As doações imateriais também são frequentes, nas feiras você pode oferecer um dom que vai auxiliar os outros. É comum acontecer aula de yoga, sessão de reike, massagistas, abraços grátis, poesia, etc.

LF: As gratidões imateriais são muito importantes também. Já tivemos contação de história, oficinas de artesanato, fora o abraçio grátis... que é genial, super agregador. Também temos fisioterapia ecológica e orientação jurídica, é a gratidão legal e eu que ofereço!

As próximas edições agendadas para o Rio de Janeiro acontecem dia 16, na Praça Paris, dia 22, em Edson Passos (a primeira edição da Baixada), dia 29, no Santa Marta, e dia 30, no Leme, em conjunto com o Ilumina Rio, um projeto que propõe cantar para alegrar.
Para saber mais, visite a página e participe do grupo que já conta com mais de 12 mil pessoas, ambos no Facebook. Gratidão!

6 comentários:

  1. gostei da matéria. vou tentar ir na próxima!

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  2. Muito linda a idéia de se participar de uma feira de abraços, beijos, poemas e canções.
    Nem sempre é necessário darmos algum objeto, muitas vezes é muito bem vindo um abraço, um carinho, um aperto de mão de outro irmão..
    Vamos divulgar e participar ou melhor, doar,

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  3. Doar é uma arte que vem do fundo do entendimento da alma.. muitos não sabem doar e mais preocupante é que muitos não sabem receber nada de graça.. vamos treinar .. ótima matéria e maravilhosa atitude.

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  4. Amei saber mais dessa iniciativa incrível! :)

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  5. Minha Gratidão a todos e a Lua Ferreira ....pude participar com minha gratidão com o dom de auxiliar a saúde dos outros com a Fisioterapia Ecológica, fiquei muito feliz e também conheci a Lua Ferreira q fazia um trabalho de orientação juridica com a sua GRATIDÃO LEGAL...Venham todos, tragam sua familia,amigos,conhecidos,divulguem...tragam a sua linda presença!!!!!!! gratidão!!!!

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  6. a feira de hoje foi ótima, obrigada pela indicação!

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